Caminhando sobre o solo do planeta,
Entre as penas e gozos consentidos,
Somos flores que sonham em ser frutos.
Somos vagens em plantas convertidos.
Já não somos o que fomos, o que seremos ainda não somos, mas trazemos em nós o que já fomos e o germe do nosso vir a ser. Carregamos em nós nosso destino, indissociável parte de nós mesmos, feito atores que fazem de si próprios o instrumento de sua obra inacabada.
Quando a flor se abre inconsequente, há uma hipótese de fruto nesse gesto. E sendo tal flor daquela espécie, o seu destino em fruto é definido. Já não se lembra a flor de que algum dia foi semente sonhando ser árvore e não vislumbra, em suas cores perfumadas, mais além do que o fruto em que vai se transformar.
Também o homem traz lembranças bem marcadas de experiências mais recentes, ignorando seu passado mais remoto. E vislumbra - da escala evolutiva - pouco à frente de onde está, sem ter idéia do porvir ilimitado.
O que podemos deduzir, com base nas etapas anteriores, é que existe uma sequência natural predefinida – como a flor, que é natural tornar-se fruto. E que seremos, cada vez, seres melhores – como já somos melhores do que fomos.
Tudo segue um plano mais extenso do que a mente é capaz de apreender. Estamos juntos nesta barca planetária, cumprindo etapa da jornada coletiva – sem atinar para onde ela nos leva – mas já capazes de saber que a um destino mais feliz.
Também, feito a flor – que se doa em cores e perfume e pretende quando fruto entregar-se inteiramente – se hoje ofertamos uma parte de nós mesmos à construção do bem comum, quando melhores formos, mais teremos de nós mesmos a ofertar.
E se flor e fruto são brotações da mesma planta, brotamos juntos de um tronco planetário, solar, galáctico, flores pendentes de um ramo da árvore da ciência do bem e do mal.
E se a planta do pomar é cultivada e preservada – em suas flores por seus frutos – também por nós alguém cultiva a planta-mãe e nos preserva. Pelos frutos, ou simplesmente porque ama as flores que nós somos.
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